SOBRE A LEI DE MURPHY E COMO AS COISAS SEMPRE DÃO ERRADO COMIGO
Este texto não visa de maneira alguma: ajudar, edificar, construir, instruir e todos os outros sinônimos que você puder pensar a sua vida. Texto escrito em 10 de abril, algum momento entre: 2020-2023
Às vezes eu penso comigo mesmo: por que será que para mim as coisas tendem a ser mais complicadas? É óbvio que quando faço essa pergunta estou sendo completamente egoísta e olhando somente para meu próprio umbigo. Sim. Sei que há outras inúmeras pessoas enfrentando situações completamente mais desoladoras e difíceis que as que eu enfrento. A questão, entretanto, é que isso não diminui (embora coloque em perspectiva e me ajuda a enfrentar melhor) a minha dor, dilema e realidade.
Então, sim! Há pessoas enfrentando dilemas mais difíceis que os meus. Mas eu também estou enfrentando os meus e, por agora, eles são bem difíceis para mim. Há aqueles momentos da vida em que olhamos ao redor e nos sentimos, talvez em um nível diferente mas ainda assim igual, como Edward Murphy. Olhamos para os lados e vemos que sim, tudo o que pode dar errado certamente dará errado. Naqueles momentos que não importa quão bem você jogue os dados, as coisas não irão como você imagina.
Aqueles momentos em que você planejou, se organizou, se preparou e fez tudo certo. E quando achou que finalmente as coisas andariam e funcionariam da melhor maneira, percebeu que não, a vida não é assim. E então seu castelo de cartas cai ao chão. E você pensa: sempre comigo.
Existe sim um aspecto de vitimismo. Em alguns casos menores, outros maiores. Não importa. Eu falei que estou olhando para meu próprio umbigo. E será assim até o final. Às vezes faz bem olhar para o próprio umbigo. Afinal, embora invisível aos olhos dos outros, umbigo sujo é algo nojento.
Continuemos.
Há aqueles momentos em tudo parece não funcionar, você para e pensa: “por que comigo?” “Por que justo na minha vez?” “Agora que eu achei que as coisas finalmente dariam certo…”. É, eu sei, você já pensou isso. Todos nós já pensamos. Isso não te faz especial. Na realidade faz você olhar e perceber que, realmente, não há nada de especial E não, não é só com você. As coisas dão errado para todo mundo. Planos falham. Ideias são destruídas. Sonhos não se realizam todos os dias. Todo mundo já dormiu frustrado ou aflito. Angustiado e ansioso. Tentando lidar com as próprias emoções. Essas coisas acontecem com todos, sinto em lhe informar, não é só com você.
Então pare de se sentir assim, se vitimizando. Achando que sim, a Lei de Murphy é uma realidade para a sua vida. Ela não é. As coisas dão certo às vezes. Elas funcionam de vez em quando. Você sorri sim e coisas boas também acontecem na sua vida. O sol nasce, você descobre músicas novas, conhece pessoas novas. Você sorri lembrando de memórias boas e até se emociona com o que Deus fez na sua vida. Sim. Você não é especial. É só um momento ruim. Confia em mim. Você no fundo sabe disso.
Então só relaxa. É só um momento.
O que não é verdade para mim. Pra mim nunca é.
A lei de Murphy é a única realidade da minha vida. As coisas nunca deram certo. E não, não parece que seja só um tempo e que eventualmente elas darão. Quando olho pra minha história e tudo o que já aconteceu nela, a sensação é de que realmente os dados que me foram disponibilizados ou são viciados e foram feitos para me ferrar, ou nem dados são. É só uma grande carta que entra em ação sempre que penso, planejo ou sonho com algo. E nesta carta está escrito em grandes letras garrafais: “NÃO. VOCÊ NÃO.”
“Ain, japa. Você está sendo muito dramático. Está olhando só os aspectos negativos. Está somente pensando em si mesmo…”. Sim. Eu sei. O texto é exatamente sobre isso. Eu olhando meu próprio umbigo e dizendo qual a sensação de se estar onde estou. Me desculpe, neste exato momento não há razão ou motivo para eu elevar-me espiritualmente e pensar: “ainda assim, estou vivo…” Estou realmente vivo, mas poxa, a vida poderia ser um pouco mais fácil. Ou, pelo menos, com um pouquinho a mais de conquistas. Ou, eu posso até pedir menos, sem tantas decepções assim.
Ora, o que eu fiz afinal de tão ruim para merecer? Será que isso é obra de méritos mesmo? Sei que as boas dádivas de Deus são graça. Mas por que parece que algumas áreas da minha vida são totalmente desgraçadas? Que por mais que eu ore, peça e até chore, Deus parece nem ouvir e só deixa Murphy ferrar com a minha vida.
Por que, afinal, Deus permite Murphy descobrir essa lei. Se isso não tivesse acontecido, talvez as coisas fossem mais fáceis.
A manteiga sempre vai cair virada pro chão? Até quando? E por que que não funciona se eu amarrar um gato com um pão, os dois opostos, jogar ao chão e gerar energia infinita? O tipo de lei que certamente me beneficiaria parece não existir. Quão injusto.
Na verdade, eu nem quero que a manteiga caia virada para cima. Eu quero que o pão nem caia, pra começo de conversa. Eu só quero sentar, pegar aquele pãozinho gostoso, tacar manteiga e comê-lo. Sem problemas. Sem crises. Sem mini desesperos. Será que isso é possível? Será que haverá, em minha vida, algum momento em que o pão não vai cair? Neste cenário, não ter o pão é menos decepcionante do que ter em mãos e vê-lo cair logo em seguida. Agora terei de limpar o chão triste porque não comi o que ansiava.
A vida às vezes parece ser um grande jogo onde o plot é o pão cair. O problema é que neste jogo eu sou o menino que está com o controle, mas meu irmão mais velho me enganou e não conectou ele no console. Estou apertando todos os botões, querendo impedir que meu pão caia virado pra baixo, mas ele vai cair e eu não posso fazer nada para impedir.
Já tentei em inúmeras áreas da minha vida tentar fazer com que as coisas caminhem da maneira que me agradem mais. Mas isso nunca funcionou. As coisas sempre aconteciam de maneiras que me desagradavam, me deixavam tristes e, até mesmo, desolados. Claro, como crentes diremos: “isso porque você colocou seu coração no lugar errado…”, ou “é um ídolo e quando ídolos caem é assim que ficamos…”. Não quero questionar a veracidade dessas afirmações, pelo contrário, concordo e assino em baixo. Em boa parte das minhas crises de desilusões e desapontamentos com o rumo pelo qual minha vida seguia, tudo era fruto de um coração mal guardado idólatra.
A questão, entretanto, é que eu sou isso. Um grande idólatra pecador tentando acertar. E nisso acabo amando aquilo que não é digno do meu amor. Sou um viciado em amar. Amar de mais as coisas. Amando, claro, coisas erradas.
Então, tudo o que eu amo em excesso acaba indo pelo caminho que eu não queria que seguisse. As coisas sempre aconteciam e seguiam rumos que me deixavam muito tristes. Sem dizer das vezes que as coisas simplesmente não aconteciam ou seguiam para rumo algum.
A vida (pra não dizer Deus e parecer que estou culpando-o por tudo) parece não gostar de me deixar chegar nas partes boas da existência. Digo isso hoje, principalmente, no auge da minha vida jovem-adulta. Queria estar num relacionamento, não estou. E, parece-me que se eu for estar (principalmente tendo em mente uma pessoa que tenho) não estarei até o ano que vem (Deus me ajude). Queria estar já encaminhado para minha jornada ministerial, e pelo que vejo isso não acontecerá plenamente nos próximos 8-10 anos. Queria muitas coisas e nenhuma delas parece estar acontecendo de alguma maneira.
Porque pra mim as coisas sempre soam mais difíceis do que são. Parece que eu não posso só chegar, gostar de uma garota, ela gostar de mim de volta e começarmos a ter algo. Não. Deus sempre tem um “porém".
E isso me deixa irritado. Oras, por que Deus não pode somente deixar com que as coisas funcionem perfeitamente pelo menos uma vez na vida? É por isso que eu tenho a convicção de que, na minha vida, as coisas realmente serão sempre as piores possíveis. As tragédias, se forem acontecer, certamente acontecerão comigo.
Inclusive, é justamente por isso que eu nunca fiz nenhuma burrada grande na minha adolescência. Embora houvesse oportunidades (não que eu fosse um tremendo garanhão), eu mantinha sempre na posição de: No dia que eu fizer algo, certamente a menina engravidará e então minha vida estará acabada.
Por que eu pensava assim? Porque era certo que o que não acontecia com ninguém próximo, certamente aconteceria comigo. Dramático? Talvez. Mas esse cuidado me impediu de ser pai aos 20 poucos anos.
O que fazer, portanto? Não sei. Não há realmente o que fazer. Se Deus, quem tudo governa, tudo conhece e sabe, não me permite ter coisas da maneira fácil, o que eu posso fazer afinal? Nada. Terei de lidar até o fim da existência que para mim o jogo sempre será com a carta me dizendo: NÃO. VOCÊ NÃO.
Quase como se Deus tivesse feito uma parceria com minha mãe que sempre disse: Você não é todo mundo.
Será que fui chamado a viver um eterno prestes a acontecer que nunca acontece?
Definitivamente eu não gosto desta ideia.