Pra mim é difícil'(d)existir'.
Eu achei que era sobre algo no início, mas no final é só outra coisa.
Já faz um mês desde o último texto que escrevi e publiquei por aqui. Estava em Portugal na altura, retornando pra casa se não me engano e, desde o retorno, a vida tem sido uma grande correria. Sobre a viagem para o outro lado do oceano eu posso comentar em outro momento, uma vez que foi com figuras conhecidas e houve inúmeras histórias engraçadas. De qualquer forma, tudo está sendo uma correria.
Uma das coisas que tem ocupado um tempo considerável na minha rotina tem sido a produção e gravação do primeiro álbum da Quase Famosos. Estou desde o início do ano organizando as canções, imaginando e compondo e, desde o final de Maio, começamos oficialmente a gravar algumas coisas. Diferente das outras versões, agora teremos gravações mais ‘à sério’. Gravamos bateria e baixo em estúdios espalhados pelo Brasil e vou começar a gravar as guitarras (em casa mesmo pra economizar) e depois as vozes. Tem sido um desafio lega, ao mesmo tempo que sempre que esbarro no meu limite eu tenho uma grande vontade de desistir.
Parece que há um nível de empolgação e um limite do quanto este nível consegue se manter elevado. Aparentemente o limite do quão empolgado eu posso ficar sem desanimar é uns… dois dias? Talvez três, não sei. Mas eu ‘constumeiramente’ me vejo pensando em não publicar nada mesmo depois de ter gasto o tempo e dinheiro que gastei. Parece que quando ouço, de alguma forma, não está bom. Sendo que há também os dias em que eu ouço e acho que está incrivelmente bom. E aí, está bom ou não está?
A questão, me parece, não é realmente sobre a qualidade ou sobre o que gosto ou não, porque isso não me parece algo muito objetivo, mas talvez sobre a forma como eu, de maneira geral, me aproximo dos objetos da existência e, porque não, da existência em si. Isso pode até virar um papo existencialista, mas tudo bem, eu sou um pouco…
Há dias em que acho incrível e dias em que eu acho tudo horrível e completamente descartável, e eu posso estar falando sobre minhas músicas ou sobre a minha vida. Tanto faz. E eu não consigo dizer exatamente o porquê. Óbvio que na vida eu consigo claramente perceber as coisas que me deixam completamente para baixo (até porque elas são bem nítidas…) e também consigo perceber os grandes momentos e acontecimentos que tornam a vida algo muito legal de ser vivido. Ainda assim, mesmo após viver coisas incrivelmente incríveis e ficar extremamente empolgado com as coisas que me aconteceram eu ainda ouço a canção e penso: acho que não vai funcionar.
A metáfora da vida como música ou a música da vida não funciona completamente e encontra um final, como toda a metáfora. De qualquer forma eu ainda vou me manter nela, uma vez que só comecei a escrever porque pensei nesta metáfora e pensei: “Nossa, isso daria um belo texto…” e somente isso já me tirou da inércia de não escrever. Agora, entretanto, penso se realmente publico o texto ou não uma vez que o que parecia uma grande e genial ideia, agora tornou-se somente mais uma coisa que eu olho e penso: não está tão bom como eu imaginava.
Percebem? No fim, serviu até mesmo de uma meta-metáfora, se é que existe isso. No fim, eu sei que o lado positivo ainda é maior ao ponto de mesmo eu não gostando 100%, ou tendo dias em que estou negativo, eu ainda vá publicar (me refiro à canção…), porque há em mim uma grande insatisfação em não fazer as coisas, ou pelo menos não concretizá-la.
Ao mesmo tempo, hoje pela manhã passei por uma crise. Vi um reels de alguém falando sobre uma certa síndrome: “Síndrome das pessoas talentosas” e eu me identifiquei. É claro que, é se achar de mais se identificar com uma síndrome destas. Ainda assim, foi o que aconteceu. O que eu deveria fazer?
Segundo o especialista que tive contato por menos de 1 minuto esta síndrome acontece com pessoas talentosas em alguma área que, desde criança, ouviram sempre que elas eram muito habilidosas. Ser talentoso, portanto, torna-se parte de sua identidade. Ao crescerem, este ser talentoso começa a se auto boicotar e fazer as coisas de maneira desleixada ou, de maneira, irregular, sem perfeição. O diagnóstico: fazem isso para não correr o risco de levarem à sério e falharem mesmo assim e, assim, mantém intacto como identidade o fato delas serem um gênio, promissor talento, e nunca descobrem se realmente tudo é uma grande farsa.
E aí eu fiquei pensando: Será que eu lançar minha banda como ela é, embora eu justifique de maneiras filosóficas a sua estética underground, só não seja uma forma de me auto sabotar para não descobrir no final da linha que eu sou uma grande farsa? Será que eu só não tenho medo de dar errado mesmo depois de fazer à sério e por isso eu contento em dar errado fazendo meia boca, só para ter o gosto de eternamente me contentar com: se eu fizesse direito, certeza que eu daria certo. Mas eu sei que nunca tentarei e ficarei para sempre no e se… Será que é isso mesmo?
Meus oponentes filosóficos que acreditam no som limpo e não entendem o que faço como artista talvez concordem que sim. Afinal, eles são realmente talentosos e realmente levam à sério o que fazem. Portanto, não podem permitir que alguém que não se leva à sério fique na mesma prateleira que eles. Dedicam tudo de si, por que deveriam ser colocado na mesma categoria que um artista de segunda categoria?
Este foi o grande diálogo que tive na minha cabeça enquanto via o reels de menos de 1 minuto. A questão que conclui logo após passar para o segundo, que eu já deveria ter levado em consideração antes de tudo é que pra começo de conversa eu nunca fui talentoso e ninguém durante a minha infância elogiou os meus talentos, portanto a auto sabotagem ou a síndrome das pessoas talentosas, não é algo que acontece uma vez que ser talentoso nunca foi algo real na minha vida. Eu sou inteligente, isso sim, mas talentoso…? Há espaço para dúvida.
O que faço, portanto, eu faço porque é realmente o que eu sei fazer. Não há uma auto sabotagem, há uma limitação técnica instaurada em meu ser. O rock ruim que é o gênero que a Quase se encontra é só a manifestação natural da falta de competência para fazer um rock bom (embora eu ainda justifique isso de maneira filosófica e, porque não, por gosto pessoal). Eu não tenho medo de levar à sério e dar errado, porque isso já acontece. Inclusive, isto responde as possíveis indagações dos oponentes filosóficos ilusórios que mencionei nos parágrafos anteriores: Podemos sim ficar na mesma prateleira mesmo você discordando, nós DEVEMOS aliás, porque de diferentes formas, com sonoridades diferentes, ambos estão levando à sério. E não só isso: ambos estão falhando miseravelmente em dar certo.
Algo que eu aprendi: Ninguém liga para o quanto você leva à sério. Ninguém liga para o quanto você se dedicou. Ninguém liga pra nada. Todo mundo só está pensando no seu.
Dito isto, eu sinto que eu real me perdi da ideia original deste texto. Havia pré definido o título pra conseguir nortear a escrita, mas como ficou claro a ideia só era boa até os primeiros parágrafos e depois não se sustenta. Mas, eu não sou um bom escritor. E tudo bem. Se você gosta destes tipos de textos provavelmente você também não é um bom leitor. Que bom que nos encontramos.
O álbum vai sair, tal qual este texto sairá. Você irá ouvir e, certamente, amanhã já esquecerá.
Abraços.
Até outro dia.



Me identifiquei muito com esse texto, e lendo agora com certeza tenho sintomas dessa síndrome 😂
Mas às vezes tudo que precisamos é ser mais generosos com nós mesmos. Não existe uma “linha de chegada”, e se a perseguimos todo tempo, nos tornaremos pessoas obstinadas a obter algo que nunca existiu.
Sobre ser uma grande farsa, essa realmente é a famosa síndrome do impostor, o medo de descobrirem que nunca seremos aquilo que as pessoas idealizam hahaha
Mas eu tenho aprendido que não preciso dar conta de tudo, e que precisamos exercer autocompaixão. Não se cobre tanto, não seja tão crítico a ponto de desistir das coisas ou pensar nelas mil vezes e criar mil cenários de possibilidades irreais do que pode ou não dar errado. Ser mais paciente com a gente mesmo é o desafio :)